quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Spectreman - episódios 25 a 27

 

Foto – Doutor Gori (esquerda) e Spectreman (direita).

Antes mesmo de Jaspion e Changeman dar o ar de sua graça no Brasil e abrir as portas para que a vinda de uma enxurrada de séries tokusatsu para cá, outras séries tokusatsu mais antigas também foram exibidas no Brasil nos anos 1960, 1970 e primeira metade dos anos 1980. Entre elas, Spectreman.

Spectreman é uma série do começo dos anos 1970, produzida pela P-Productions e pela Krantz Films e criada pelo produtor Sōdži Ušio (pseudônimo de Tomio Sagisu). A exibição de Spectreman na televisão nipônica, por meio da Fuji Television, durou de dois de janeiro de 1971 a 25 de março de 1972, totalizando 63 episódios.

A trama do seriado japonês setentista gira em torno da luta do androide Spectreman contra o intento conquistador do Doutor Gori, um cientista nativo do Planeta Épsilon, e seu auxiliar Karas (originalmente Rah), que depois de ter sido desterrado do planeta natal dele resolve conquistar a Terra ao ver que os seres humanos a estão destruindo por meio de flagelos como a poluição e a destruição do meio ambiente.

Depois de passagens por países como Estados Unidos, França e Itália, Spectreman chegou ao Brasil no começo dos anos 1980, tendo tido duas exibições: uma pela Rede Record entre 1981 a 1982 (em parceria com a TVS Canal 11 – Rio de Janeiro); e de 1983 até 1990 pela TVS (atual SBT). Nas últimas reprises da série pelo SBT, entre 1988 a 1990, este se aproveitou do sucesso de Jaspion e Changeman para “reviver” o herói setentista.

A dublagem brasileira foi feita em São Paulo, e ficou a cargo dos estúdios da Com Arte, com base na versão norte-americana. Por conta disso que algumas das alterações de nomes feitas nos Estados Unidos vieram para cá. Alguns personagens, como é o caso de Kato (originalmente Kaga), tiveram seus nomes alterados por questão de cacofonia (em outras palavras, para que o personagem em questão não virasse objeto de certas piadinhas infames – algo que também veio a se repetir em séries tokusatsu dos anos 1980 e 1990, como foi o caso do mantra da bruxa Kilza em Jaspion, que originalmente era “beremekan katabumda” e virou “berebekan katabamba” no Brasil. O caso do Green Flash e do Blue Flash em Flashman, que originalmente se chamavam Dai e Bun, respectivamente, e no Brasil foram rebatizados como Dan e Go. Entre outros que podemos ficar citando).

A dublagem de Spectreman contou com muitos nomes que anos depois participaram de Chaves e Chapolin, tais como Mário Vilela, Marcelo Gastaldi, Eleu Salvador, Jorge Pires, Osmiro Campos, Carlos Seidl, Leda Figueiró e outros. Também participaram dubladores que mesmo não tendo feito parte do elenco de Chaves e Chapolin, participaram das séries tokusatsu que vieram para cá a partir de Jaspion e Changeman, tais como Marcos Lander, Francisco Borges e João Paulo Ramalho. Este último, notório por ter sido a principal voz do astro de filmes de ação Chuck Norris em São Paulo, teve uma trajetória bem interessante na dublagem das séries tokusatsu, visto que em Spectreman dublou um dos heróis secundários da trama, Kato, e depois nos seriados dos anos 1980 e 1990 tornou-se notório por ter emprestado sua voz forte a vários vilões, como o Doutor Jean Marie em Jiban, o Imperador Neroz em Metalder e o Grande Rei em Kamen Rider Black. Na Gota Mágica, dublou Lúcifer no especial do Armageddon em Cavaleiros do Zodíaco e Hadler em Fly: o pequeno guerreiro (episódios 6 a 8).

Também participaram da dublagem de Spectreman dubladores que tempos depois se mudaram para o Rio de Janeiro e participaram da dublagem de desenhos oitentistas como Thundercats, He-Man, Silverhawks e outros, como Marcos Miranda e Francisco José. Muitos desses dubladores veteranos, a maioria deles já finados, são egressos da AIC (Arte Industrial Cinematográfica), um dos estúdios pioneiros na arte da dublagem em São Paulo.

E uma curiosidade a respeito de Spectreman é que originalmente, quando a série foi lançada no Japão, o seriado levava não o nome do herói, e sim o do vilão da série, visto que se chamava “Učuu Endžin Gori” (“Símióide Espacial Gori”). E assim o foi durante os 20 primeiros episódios da série, até em decorrência de que no episódio 21 o título foi alterado para “Učuu Endžin Gori tai Supekutoruman” (“Símióide Espacial Gori contra Spectreman”). Novamente veio a ser alterada no episódio 40 para apenas Spectreman (que por sua vez virou o título internacional da série).

Como já dito antes, Spectreman tem ao todo 63 episódios. Mas destes 63 episódios, você encontra 60 deles com a dublagem brasileira. E isso tanto em DVDs genéricos (como aqueles lançados pela Dream Anime Club em meados dos anos 2000) quanto em episódios pela Internet (incluindo canais do You Tube com episódios do seriado, como é o caso do canal Máquina do tempo, que possui uma playlist com a série na íntegra). E os episódios que estão sem a dublagem brasileira são os episódios 25 (Uma arma para Spectreman), 26 (Uma arma para Spectreman - epílogo) e 27 (A batalha titânica dos sete monstros gigantes).

Segundo postagem feita na página do Facebook “Artes dos Tokusatsus”, feita no dia 1º de julho de 2020, esta é a sinopse do episódio 25 de Spectreman:

“Vindo de um meteoro, Satan King apareceu. Sob o controle do Doutor Gori, a fera estava prestes a destruir a Terra. Spectreman foi convocado pelo Soberano (chamados no Brasil de Dominantes) e lutou contra o monstro, correndo o risco de ter seu braço quase destruído. No entanto, o meio de chegada da besta, o meteoro, teve um efeito colateral invisível. Sua explosão maciça matou o bebê do monstro antigo, Magulah.

O monstro Magulah era um monstro antigo que dormia no subsolo com o bebê ainda no ovo. Foi acordado quando o monstro Satan King, do Dr. Gori, pousou na terra. Isso não apenas fez o monstro acordar, mas também matou o bebê. Logo veio à tona exatamente quando Satan King estava lutando com Spectreman. Embora com Spectreman descartado por Satan King, Dr. Gori chocado ao ver um monstro que não é de sua criação envia o monstro rei para atacar. Ambos conseguem fazer golpes severos um com o outro, como Magulah jogando uma pedra na cabeça de Satan King e o rei Satanás mordendo o braço de Magulah.

Eventualmente, Satan King foi finalmente forçado a recuar. Magulah então vai checar seu bebê e encontra-o morto. Irritado, o monstro começou a se enfurecer, o monstro começou a se enfurecer, o que forçou Jôji a ser força para se tornar Spectreman. Máquina e monstro lutaram entre si, mas Magulah ganhou vantagem ao quebrar um dos braços de Spectreman e depois se retirou para o subsolo”.

Foto – Belzebu (originalmente Satan King).

A mesma página também traz uma sinopse para o episódio 26, na mesma postagem:

“Magulah agora no subsolo, foi direto à cidade para atacar Satan King. Quando os dois monstros entraram em conflito, destruindo tudo o que atingiram, Spectreman apareceu e voou para longe para levar os dois monstros para fora da cidade.

Embora ambos tenham sido persuadidos, Magulah se afastou e viu Satan King enfrentar Spectreman e o nosso herói armado com sua nova arma, a Spectre-Gun, Spectreman destruiu Satan King de uma vez por todas. Magulah então apareceu e, embora Spectreman tenha tentado argumentar com ele e dito para deixar o monstro ainda irritado com a morte do bebê, atacou Spectreman.

O monstro então atacou Spectreman outra vez, mas se tornaria uma ruína quando o monstro e o herói caíssem de um penhasco no oceano onde o monstro morreu. Kenji, no entanto, sentiu pena dos monstros por ser vítima dos planos malignos do Dr. Gori e, em seguida, espíritos de pais e filhos foram vistos desaparecendo no céu noturno, segurando a mão um do outro”.

Foto – Magulah.

Quatro dias mais tarde, a mesma página também postou uma sinopse do episódio 27, “A arena dos monstros”, dividida em duas partes, visto que neste episódio somos apresentados a dois novos monstros, Donchinodon (originalmente Mogz) e X (originalmente Silver Robot).

“A História do Monstro Donchinodon (Mogz):

Gori enviou Mogz para testar sua nova criação, Silver Robo. Durante a luta, Mogz usa sua cortina de fumaça para escapar dos ataques de Silver Lobo, mas Mogz foi encontrado facilmente porque Silver Lobo podia ouvir o rugido do kaiju e, em seguida, Silver Lobo usou as lâminas de seu braço para cortar Mogz. Mogz caiu em uma pedra e sangrou até a morte”.

Foto – Donchinodon (originalmente Mogz).

“A História do Monstro X (Silver Robot):

Um ciborgue criado pelo Dr. Gori, ele deu à sua criação vários poderes baseados nos próprios poderes de Spectreman.

Para testar o valor, ele envia para a briga de vários outros monstros que ele havia revivido como sujeitos de teste. Na chegada, ele desafia Mogz. Mogz parecia ter vantagem sobre sua cortina de fumaça, mas o barulho dos monstros denunciou sua posição e logo Silver Robo cortou Mogz fazendo com que ele sangrasse até a morte.

Ele então desafiou o Gokinosaurus II, e o monstro da barata parecia ter vantagem em voar ao seu redor, mas Silver Robo usou suas Explosões de Energia e atirou nele no ar, fazendo-o explodir em pedaços menores. Silver Robo continuou seu ataque ao Baronsaurus II e ambos pareciam igualmente iguais, mas Silver Robo jogou o Baronsaurus II em Mogunetudon II e por causa de seu hálito de fogo no Baronsaurus II.

Moguntudon II agora o enfrentaria e enterraria no subsolo para ceder o Silver Robo, mas, quando o monstro do peixe-gato subiu à superfície, o ciborgue usou as lâminas do braço e cortou a cabeça da criatura. Silver Robo seguiu para Nezubirdon II, que estava atacando Jôji e outros dois amigos em uma caverna. O monstro rato parecia ganhar vantagem com as duas cabeças e cauda, ​​mas o ciborgue se soltou da cauda e decapitou as cabeças de Nezubirdon II.

As duas cabeças voltaram e começaram a morder seus ombros. Spectreman então entrou em cena, assim como Silver Robo lidou com as cabeças das duas criaturas e os dois gigantes começaram sua batalha. Silver Robo pareceu ganhar vantagem, até que ele recuou em algumas torres elétricas, fazendo seu corpo esquentar imensamente. Encontrando sua fraqueza, Spectreman então dispara uma névoa gelada no monstro, fazendo com que ele congele e acabe desmoronando”..

Foto – Monstro X (originalmente Silver Robot).

Segundo consta no artigo da Wikipédia em português sobre a série, os episódios em questão foram sim exibidos no Brasil. Os episódios 25 e 26 (intitulados “Uma arma para Spectreman”) foram exibidos na TV Record em 1981 e 1982 e na TVS entre 1983 a 1986, embora não tenham sido exibidos na última exibição da série (1988 a 1990). Já o episódio 27, “A arena dos monstros”, foi exibido apenas na TV Record em 1981 e 1982.

Sobre o motivo pelo qual estes materiais com o áudio em português brasileiro se perderam, tudo leva a crer que se perderam no meio do acervo do SBT/TVS. À época, a sede do SBT ficava na Vila Guilherme em São Paulo, bairro da zona norte localizado próximo às margens do Rio Tietê. Tal localização, infelizmente, tornava a sede do SBT à época uma presa fácil para enchentes e inundações, principalmente em dias de chuvas torrenciais que se estendiam por vários minutos e mesmo horas. E assim o foi nos anos 1980 e 1990, sendo a maior delas a de janeiro de 1987, segundo o livro “Almanaque do SBT”, lançado em 2017.

Segundo trecho do artigo publicado em 19 de agosto de 2020 no site do SBT, em comemoração aos 39 anos da emissora paulistana:

“04 - Entre os anos de 1982 e 1998, o SBT São Paulo, localizado na Vila Guilherme, sofreu com inundações. Arquivos da emissora foram destruídos pelas águas do Rio Tietê. Além disso, as enchentes chegaram a atrapalhar as gravações de programas como: Bozo, Show Maravilha, Casa da Angélica, O Povo na TV e da novela Destino”.

O texto acima nos dá uma noção do o quão eram problemáticas as enchentes do Rio Tietê para o SBT no período de 1982 a 1998, e de todo o transtorno que a fúria da natureza causou à emissora de Sílvio Santos. Por conta das enchentes, programas ao vivo foram interrompidos, gravações canceladas, arquivos foram destruídos e se perderam. Infelizmente, para todo o sempre, nas areias do tempo.


E entre esses arquivos, certamente as másters com os episódios 25 a 27 de Spectreman em alguma dessas enchentes lá estavam. Levando em conta o fato de que os episódios em questão, segundo informações da Wikipédia em português, foram reprisados até a exibição da série pelo SBT em meados dos anos 1980, é possível que tenham se perdido na enchente de 1987. Elas devem ter sido tão afetadas que, mesmo que não tenham sido destruídas pelas enchentes, ficaram em um estado tão precário que impossibilitou novas reprises dos mesmos. Foi apenas em 1996, quando o SBT abandonou a sede da Vila Guilherme e se mudou para o Complexo Anhanguera, em Osasco (Grande São Paulo), é as enchentes deixaram de ser um problema para a emissora de Sílvio Santos.

Foto – Antiga sede do SBT na Vila Guilherme. Data desconhecida.

E, para piorar ainda mais as coisas, como os episódios em questão foram poucas vezes reprisados, encontrar alguém que tenha gravado os episódios da TV em fitas VHS e tenha a gravação dos mesmos até hoje é que nem procurar agulha em um palheiro.

Mas, como diz o ditado, a esperança é a última que morre. Um dos episódios até então perdidos de Metalder (série sobre a qual falaremos em um artigo futuro), o décimo, "O robô filarmônico", foi encontrado no ano passado. 

Talvez também exista algum colecionador que tenha gravado os episódios em questão de Spectreman em fita VHS e os tenha guardados até hoje, em bom estado, para que os episódios 25 a 27 de Spectreman com o áudio em português brasileiro e com a dublagem clássica feita pelos estúdios da Com Arte no começo dos anos 1980 possam novamente ver a luz do dia.

Fontes:

Descubra 39 curiosidades sobre os bastidores do SBT. Disponível em: Descubra 39 curiosidades sobre os bastidores do SBT - SBT

Nos anos 1980, enchentes destruíram cenários e tiraram programas do SBT do ar. Disponível em: Nos anos 1980, enchentes destruíram cenários e tiraram programas do SBT do ar · Notícias da TV (uol.com.br)

Spectreman. Disponível em: Spectreman – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Olá a todos!

Este é mais um projeto em forma de blog que estou lançando, sobre mais outro tema que me interessa: mídias perdidas (ou se preferirem, lost media). Mídias que com o tempo, por diversos fatores, infelizmente (ao que tudo indica) se perderam nas areias do tempo. E a ideia desse meu novo projeto surgiu da seguinte forma: esses dias eu lembrei de um trabalho que fiz quando cursei a pós-graduação em História, no ano de 2007, em que falei sobre patrimônio histórico e cultural e a importância da conservação do mesmo para futuras gerações. E ao lembrar desse trabalho, pensei no seguinte. Que se o fizesse hoje em dia, com o conhecimento atual meu, também iria falar sobre questões envolvendo patrimônio audiovisual. Falaria, por exemplo, sobre episódios perdidos dos seriados Chespirito (tanto os perdidos mundiais quanto os perdidos no Brasil), dublagens perdidas de filmes e seriados, entre outros. E depois de pensar um pouco comigo mesmo, resolvi lançar este projeto em forma de blog. Aqui pretendo falar sobre vários casos de filmes, seriados, desenhos e outras produções cuja versão dublada em português brasileiro com o tempo viraram lost media (total ou parcialmente). 

Spectreman - episódios 25 a 27

  Foto – Doutor Gori (esquerda) e Spectreman (direita). Antes mesmo de Jaspion e Changeman dar o ar de sua graça no Brasil e abrir as port...